Eliziane Gama: “Ninguém, muito menos uma mulher, chega ao Senado Federal à toa”

Por: Leandro Miranda
Desde o Império (1826 a 1889), o Brasil teve 73 presidentes no Senado Federal. O retrato de cada um deles – absolutamente todos homens e aparentemente todos brancos –, enfileirados em ordem de mandato, estampa o plano de fundo do quadro em que está posicionada Eliziane Gama (Cidadania) no Museu do Senado para a realização desta entrevista. Ali, à frente deles e ao centro (e então considere inclusive ideologicamente), está, aos 44 anos, a única senadora em exercício eleita pelo Maranhão. Antes dela, o estado elegeu Roseana Sarney (MDB), que cumpriu mandato entre 2003 e 2009, o que faz Eliziane a segunda no feito. Ali, à frente deles e precisamente ao centro de minha tela, está uma das 12 mulheres entre os 69 homens que atualmente ocupam as cadeiras da Casa Legislativa.
Não é mera força de linguagem frisar o lugar em que Eliziane está hoje. “Ninguém, muito menos uma mulher, chega ao Senado Federal à toa”, ela diz, ao comentar sobre o sangue que lhe subiu à cabeça, mais precisamente “à garganta”, quando, nas sessões da Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid-19 se viu impelida a falar mais alto que seus colegas homens. “Por exemplo, na ocasião em que eu fazia uma pergunta e um senador [Ciro Nogueira, do PP/PI] virou 180 graus na minha direção e fitou meus olhos achando que: ‘Ah, ela vai se desequilibrar e não vai conseguir perguntar’. Sabe o que ele me deu? Combustível. Não é um olhar atravessado que vai me paralisar.”
Essa não foi a única vez que tentaram acuá-la. Na CPI da Covid e em “todos os outros redutos da política”, destaca, ser intimidada, interrompida ou silenciada é rotina para as representantes mulheres. “E a verdade é que não melhora com o tempo.” São 15 anos de política institucional – primeiro como deputada estadual, por duas vezes, depois como deputada federal e, agora, senadora – e o que Eliziane tem percebido é que, à medida que as mulheres vão ocupando os espaços de poder, a violência investida contra elas vai perdendo a timidez, deixa de ser velada para se tornar escancarada. “Se pensam que dessa forma vão nos parar, pensam errado”, pontua com firmeza. “Nossa ação na política vai além da melhoria da vida das populações que mais precisam, ela também pretende transformar as normas engessadas do próprio sistema.”
Foi exatamente assim com a CPI mais acompanhada dos últimos tempos. A pressão da bancada feminina fez o grupo garantir ao menos espaço de fala na investigação. Pode soar insensato, mas as mulheres não têm direito a voto na comissão que apura as ações do governo federal, de suas autoridades e de seu Ministério da Saúde, frente à maior pandemia do século. No entanto, mesmo reservadas ao mínimo, as senadoras atuaram e, se mantêm atuando, como titulares. Não raro, são responsáveis por momentos reveladores. Como foi o caso de Simone Tebet (MDB/MS), que tirou o nome do deputado federal Ricardo Barros (Progressistas/PR), líder do governo na Câmara, da boca do também deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), em forma de denúncia.

One thought on “Eliziane Gama: “Ninguém, muito menos uma mulher, chega ao Senado Federal à toa”

  1. Realmente, com uma votação “estranha” pela quantidade de votos, qualquer mulher ou homem chegaria ao Senado Federal. Agora deixa bem a desejar no que diz respeito ao conhecimento do funcionamento da máquina estatal. Soltou uma pérola na CPI quando disse em determinado momento quando o Sen. Marcos Rogério afirmou que nada foi pago pela Covaxin: “Mas foram empenhados R$ 1 bilhão de reais senador…”, Essa senhora tem que aprender e mujito pois, primeiro, empenho não é garantia de pagamento; segundo, todo contrato só segue para ser formalizado após o empenho da despesa, isso nas esferas Federal, Estadual e Municipal. Esssa senhora não sabe nem como funciona a máquina estatal, fica brincando de senadora.
    PS: Um outro dia desses olhei essa senhora no aeroporto retornando de Brasília para São Luís, pasmem, ninguém de sequer um cumprimento a ela, que política popular heim?

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