Grupo Sarney teme que candidatura de Michel Temer à reeleição seja “camisa de força” para Roseana e Sarney Filho

Repórter Tempo -A declaração do presidente Michel Temer (MDB) avisando que poderá, sim, ser candidato à reeleição causou uma tensa agitação nos bastidores na cúpula do Grupo Sarney, especialmente na ex-governadora Roseana Sarney (MDB), que se movimenta para tentar voltar ao Palácio dos Leões, e no deputado federal Sarney Filho (PV), ministro do Meio Ambiente, candidato já definido a uma vaga no Senado. O aviso do presidente da República, que foi ontem trocar impressões sobre o assunto com o ex-presidente José Sarney (MDB), pode colocar a candidatura dos dois numa espécie de “camisa de força”, à medida que é visível que nem um nem outro querem o chefe da Nação disputando votos, preferindo mil vezes que ele permaneça no comando da máquina federal apenas como suporte político para os candidatos emedebistas, democratas e tucanos. Dentro do Grupo Sarney é clara a preferência pelo projeto do deputado federal fluminense Rodrigo Maia (DEM), presidente da Câmara Federal, de chegar ao Palácio do Planalto, tendo como segunda opção o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, numa aliança MDB-PSDB-DEM. E a julgar pelo pragmatismo político extremo do ex-presidente, não surpreenderá se o Grupo Sarney vier a dar uma flertada de esguelha com Jair Bolsonaro.

O problema de Roseana Sarney é que, além de deter hoje um poder de “vida ou morte” sobre qualquer candidatura estadual do MDB, como a dela própria, o presidente Michel Temer tem correspondido o apoio que vem recebendo do ex-presidente José Sarney (MDB) fazendo-lhe todas as concessões. Vem mantendo e ampliando os espaços que sarneysistas de confiança ocupam na máquina federal, a começar por estruturas-chave do setor elétrico, um domínio antigo, consolidado e só agora ameaçado pela decisão do chefe da Nação de vender a Eletrobrás, o mais importante dos espaços onde a influência do ex-mandatário é visível e indiscutível. Esse enorme pacote de conveniências políticas faz com que Roseana Sarney nem sinalize com a possibilidade de vir a apoiar outro candidato que não seja o presidente Michel Temer, se ele de fato vier a entrar na corrida, ou o candidato que ele vier a apoiar. Sabe que se resolver contrariar o Palácio do Planalto agora vai pagar um preço muito alto.

A situação do deputado federal Sarney Filho (PV), candidato ao Senado, é mais limitada ainda. Sua condição ministro do Meio Ambiente é o fator limitador da sua movimentação partidária. Foi um dos primeiros ministros nomeados quando Michel Temer assumiu após liderar, com o apoio ativo do parlamentar e seus familiares, o movimento que derrubou a presidente Dilma Rousseff (PT). Qualquer que seja o cenário da corrida presidencial, Sarney Filho terá, por dever ético, de se posicionar sob a orientação do presidente, ainda que Michel Temer venha a lançar o banqueiro Henrique Meirelles, o poderoso ministro da Fazenda, como o seu candidato.

As eleições deste ano são tão importantes e decisivas para o Grupo Sarney que, mesmo imobilizados pelo compromisso com o presidente Michel Temer, todos os cenários são levados em conta na avaliação da cúpula. E o que mais seduz os chefes maiores do Grupo, a começar pela ex-governadora Roseana Sarney, é a candidatura ainda em gestação do deputado fluminense Rodrigo Maia. Para essa corrente, o presidente Michel Temer e o PMDB deveriam se convencer de que presidente da Câmara é a chance de passar ao Brasil a ideia de renovação e, no caso maranhense, o argumento que o Grupo Sarney teria para tentar adotar o discurso de que está sintonizado com os novos tempos. Mesmo tendo como candidata Roseana Sarney, que já governou por quase 14 anos e deve liderar uma chapa em que um candidato a senador tem 10 mandatos consecutivos de deputado federal e o outro vai tentar o quarto mandato senatorial aos 81 anos. Além do mais, o eventual apoio ao candidato do DEM será informal, já que o partido, hoje sob o comando do deputado federal Juscelino Filho, faz parte da aliança partidária liderada pelo governador Flávio Dino.

A aliança menos provável, mas ainda assim possível, do Grupo Sarney com um projeto presidencial será com o PSDB. Para começar, o candidato do partido a presidente é Geraldo Alckmin, que nunca demonstrou qualquer traço de simpatia pelos pelo ex-presidente José Sarney e seus comandados. O elo do ex-presidente José Sarney com o PSDB era o senador mineiro Aécio Neves, que está sob colapso político e moral e não tem a menor condição de fazer qualquer interlocução. Além do mais do mais, os tucanos têm um candidato a governador, o senador Roberto Rocha, que – dizem interlocutores seus –, mesmo tendo se tornado adversário do governador Flávio Dino, não está inclinado a fazer papel de escada para a ex-governadora Roseana Sarney, a quem enfrentará com o mesmo vigor.

No mais, sobra a possibilidade – remota, mas crível -, de, num cenário ainda não desenhado, o Grupo Sarney vier, por vias tortuosas que a politica admite, estabelecer uma relação com Jair Bolsonaro e a extrema-direita. A visita entusiasmada que a ex-prefeita Maura Jorge (Podemos) feita ao coronel-deputado na semana passada, em Brasília, dias antes de o candidato do seu partido, senador Álvaro Dias (Podemos), ser lançado oficialmente, é um sintoma que o Grupo Sarney está antenado e disposto a jogar o jogo possível para sobreviver