Blog Ribamar Correa
As eleições para prefeito e vereador nos quatro municípios da Ilha de Upaon Açu vão se dar embaladas por vários fenômenos políticos, sendo que o mais curioso deles é a maneira com que as correntes partidárias que formaram o Grupo Sarney se posicionaram nas alianças que se firmaram em São Luís, São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa. Estraçalhado nas urnas nas eleições gerais de 2014, o Grupo liderado pela ex-governadora Roseana Sarney (PMDB), sob a influência maior do ex-presidente José Sarney (PMDB), não encontrou ambiente nem estímulos para se recompor, e sucumbiu por falta de um projeto que amarrasse os interesses de cada um dos seus segmentos. Tendo com o base PMDB, DEM, PV, PTB, PSC, PSD e outras legendas menos expressivas, como PTdoB, PSDC e PRTB, por exemplo, o grupão se pulverizou, tendo algumas legendas se movimentado sob a orientação dos líderes maiores do grupo e outras por conta própria, em busca de sobrevivência num contexto hoje fortemente influenciado pelas correntes grupo comandadas pelo governador Flávio Dino.
A situação mais emblemática é a que foi desenhada no cenário da corrida para a Prefeitura de São Luís, onde estão cerca mais de 600 mil eleitores, o que corresponde a 15% do eleitorado do Maranhão, decidirão o futuro político e administrativo da Capital. Numa situação surpreendente, o Grupo Sarney se espalhou inteiramente, com uma banda maior se articulado em torno de um candidato e os demais espalhados nas outras coligações, incluindo a governista liderada pelo prefeito Edivaldo Jr. (PDT). Em razão de divergências dos diversos segmentos, entre eles o controlado pelo ex-deputado Ricardo Murad, o PMDB, que é comandado firmemente pelo senador João Alberto, acabou lançando o vereador Fábio Câmara, com chapa pura, mas com um lastro político até agora inexpressivo.
Tendo à frente o deputado estadual Adriano Sarney, o PV fez uma série de “ensaios”, entre eles a filiação efêmera da vereadora Rose Sales, que deveria ser a candidata do partido, entrou em conflito com a cúpula e acabou pulando fora. Além disso, o PV flertou com o candidato do PP, Wellington do Curso, mas acabou embarcando na aliança comandada pela candidata do PPS, Eliziane Gama. O PTB, que tem o comando do deputado federal Pedro Fernandes, com o aval do ex-deputado Manoel Ribeiro, por sua vez, sem alternativa mais viável, se manteve na poderosa aliança que move a candidatura do prefeito Edivaldo Jr., caminho seguido pelo PSC, controlado pelo ex-deputado federal Costa Ferreira, e pelo PSD, que tem como chefe estadual o ex-secretário de Fazenda Cláudio Trinchão. Outras siglas que sempre caminharam com o Grupo Sarney se espalharam pelas coligações em busca de eleger vereadores.
Os principais líderes do Grupo Sarney estão atuando fortemente nos bastidores da corrida eleitoral na Capital. Enquanto o senador João Alberto se desdobra para injetar gás na candidatura pemedebista de Fábio Câmara, o suplente de senador Lobão Filho (PMDB), discretamente apoiado pelo senador Edison Lobão, opera para fortalecer a candidatura de Eliziane Gama, mesmo depois do fracasso da operação por meio da qual ele tentou costurar um acordo PMDB/PPS. Sem se manifestar publicamente, a ex-governadora Roseana Sarney tentou minar a candidatura de Fábio Câmara, tendo mais recentemente defendido uma aliança do PMDB com Wellington do Curso, mas o projeto não foi à frente e ele acabou construindo uma aliança com o PSB lidera pelo senador Roberto Rocha.
Sem força para bancar candidaturas fortes carimbadas com a sua identidade, o Grupo Sarney se dividiu também nos demais municípios da Ilha. Em São José de Ribamar, o “racha” é ostensivo: de um lado está o PMDB comandado por João Alberto, tem como candidato o ex-prefeito Julinho Matos; do outro, Roseana Sarney e outros caciques sarneysistas apoiam discreta, mas intensamente, a candidatura do ex-prefeito Luis Fernando Silva, do PSDB. Em Paço do Lumiar, a maior parte do comando sarneysista investe pesado na candidatura do ex-prefeito Gilberto Aroso (PMDB), reafirmando uma aliança de décadas com a família Aroso; outras facções se aliaram ao prefeito Josemar Sobreiro (PSDB) – todos empenhados em derrotar o candidato do PCdoB e antisarneysista visceral, o emblemático Domingos Dutra. E em Raposa, o grupo se dividiu entre o vereador Eudes Barros (PR), aliado do prefeito Clodomir de Oliveira (PMDB) e apoiado pelo senador João Alberto, enquanto Roseana Sarney estaria apoiando candidatura de Ociléia Paraíba (PRB) contra a candidata do PCdoB, Talita Laci, que tem apoio total as forças lideradas pelo governador Flávio Dino.
Na avaliação de políticos experientes, o Grupo Sarney não tem muito futuro na Ilha sob o comando de Roseana Sarney, que parece não ter mais poder nem ânimo para encarar guerras eleitorais como as que vêm por aí tendo como adversários o governador Flávio Dino, o senador Roberto Rocha e outras lideranças em ascensão. O porto seguro do Grupo é o PMDB sob o comando firme do senador João Alberto, que se desdobra para manter o controle e as suas áreas de influência em torno da Capital.