Não dar mais: a “roça no tôco” mata os ninenses

Por Moisés Silva Espíndula

É urgente a necessidade de mudar as práticas de produção em nina Rodrigues-Ma. Repetimos técnicas agrícolas ultrapassadas e produzimos menos do que cosumimos, dispensando para isso um esforço desumano.

A “roça no tôco” destrói o meio-ambiente e mata de esforço e fome os produtores rurais. E por isso deve ser imediatamente substituída por uma agricultura familiar mecanizada com uso de técnicas modernas que possam garantir o alimento na mesa das famílias e sustentabilidade às futuras gerações.

Conhecido historicamente como Vila da Manga ou “terra da Balaiada”, Nina Rodrigues se emancipou em 31/12/1961 e atualmente tem uma população estimada pelo IBGE de 14.489 hab.. Com 527,207 km² é um município relativamente pequeno em extensão territorial, contudo pouco populoso: apenas 21,77 hab/km². Cada um desses nativos tem a dádiva de viver sobre uma terra fértil de vegetação pré-amazônica e clima tropical-úmido. Temos peixe no brejo e água fresca nos rios perenes, alimentados por igarapés de boqueirões. Se aqui existe pobreza, certamente não é culpa da natureza.

De fato não é culpa da natureza, mas sim da forma com que os trabalhadores se relacionam com ela.
Sem fábricas ou indústrias que produza empregos diretos, a “roça no tôco” é o triste destino da nossa gente, pois o setor público e o comércio absorvem menos de 5% da população em idade laborativa. É por isso que se somarmos todas as receitas brutas dos ninenses e dividirmos pelo total de habitantes, nos leva a ridícula posição de 5569ª entre os 5570 municípios do país, ou seja, temos o terceiro pior produto interno bruto do Brasil, segundo o IBGE. E isso não é só um dado solto; pior, se confirma em pobreza real: pois 57,5% , isto é, mais da metade da população ninense sobrevive na miséria absoluta, com menos de ¼ de um salário mínimo por mês, às custas de assistências governamentais.

Em Nina, a maior parte da população vive em área rural. São aproximadamente 9.329 pessoas morando no campo, um percentual de 64,38% de todos os habitantes do município, e ainda boa parte dos que moram na zona urbana sobrevive da pesca ou da agricultura familiar.

Acontece que a forma que se trabalha na agricultura é a raiz de um atraso histórico que sustenta um sistema de dependência econômica e uma cultura de pobreza infinita. A “roça no tôco” tem matado os sonhos de muitas gerações e, atualmente, a forma que os jovens encontraram para se livrar dela foi a fuga para outros Estados como Rio Verde –Go – por exemplo.

Para os que ficam, a saída é continuar acreditando que um dia a mudança chegará. Sem alternativas, essa gente sofrida agora faz o que sempre fez: espera. Espera em Deus; espera nos governos; espera em nós; espera que um dia isso mude.
A “roca no tôco” funciona assim: o lavrador broca com a foice, derruba com o machado, queima, corta a madeira, encoivara os garranchos, encosta a madeira para as laterais do roçado, faz a cerca, depois planta variadas espécies de legumes (normalmente o arroz, feijão, manaíba, melancia, pepino maxixe e outros), capina e alguns meses depois colhe. Parece fácil, mas esse serviço é todo feito manualmente sem proteção alguma. É um trabalho exaustivo, do amanhecer ao anoitecer; e quase sempre sem uma refeição adequada.

É a cultura da queima. Se por um lado o corpo do trabalhador é queimado com o sol, por outro, o solo é queimado com o fogo; e o resultado final é o esgotamento de ambos e um prêmio injusto: uma colheita menor que sua necessidade anual.
Se continuarmos com o mesmo método de produção agrícola, em pouquíssimo tempo não haverá área cultivável. E ai é que vem a pior parte que é o uso para a agricultura das matas ciliares e a destruição total dos brejos e nascentes. Por isso acreditamos que é urgente a mudança desse modelo para práticas modernas e sustentáveis.
É urgente a necessidade de mudar as práticas de produção em nina Rodrigues-Ma. Ou a gente muda ou a gente continua morrendo, aceleradamente.

Escrito em 17/02/2018, pelo ninense
Moisés Silva Espíndula,
Licenciado em História