Delator diz que ex-ministro Lobão pediu ‘ajuda’ de R$ 1 milhão

2015-03-20 23.00.22O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmou, em depoimento gravado em vídeo como parte do acordo de delação premiada fechado com a força-tarefa da Operação Lava Jato, que o ex-ministro de Minas e Energia e atual senador pelo PMDB do Maranhão, Edison Lobão, lhe pediu “uma ajuda” de R$ 1 milhão, além de outros R$ 2 milhões para a campanha da então governadora do Estado, Roseana Sarney (PMDB), em 2010.

Embora investigado em um dos inquéritos abertos no STF (Supremo Tribunal Federal) por ordem do ministro Teori Zavascki, Lobão vai presidir a Comissão de Assuntos Sociais do Senado.

No depoimento em vídeo, quando indagado se Lobão lhe explicou o motivo do R$ 1 milhão, Costa respondeu: “Precisava de uma ajuda”. Costa afirmou que o pedido não foi presenciado por outra pessoa. “Obviamente que só tinha eu e ele presente, não tinha mais ninguém. Onde ele fez essa solicitação, de uma ajuda para a campanha dela [Roseana] e também uma ajuda para ele”.

Segundo o ex-diretor da Petrobras, o pagamento foi “operacionalizado” pelo doleiro Alberto Youssef. Segundo Costa, Youssef depois “disse que [o pedido] foi atendido”.

Os procuradores informaram que Youssef já negara, em seu depoimento, ter recebido ordem de Costa para providenciar recursos para Roseana e Lobão. Costa ponderou: “Agora, muitos desses casos eu não tenho contraprova de que foi entregue. Se o Youssef, por alguma cargas d’água, não entregou e me falou que entregou, para mim entregou”.

Na petição em que pediu a abertura de inquérito no STF sobre Lobão e Roseana, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou que sobre os R$ 2 milhões, Youssef “deixou clara a possibilidade de que tenha efetivamente participado desse pagamento, tendo inclusive se recordado de uma entrega, no exato valor referido, no hotel Blue Tree da Avenida Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo”.

CONFUSÃO

Em pelo menos um ponto no depoimento em vídeo, Costa manifestou confusão na comparação com o primeiro depoimento que ele próprio deu sobre o assunto. Costa falou de Roseana em duas etapas de depoimentos no acordo de delação premiada. Em depoimento prestado em 30 de agosto passado em Curitiba (PR), à força-tarefa da Lava Jato, ele afirmou que, além de encontros com equipes de governo do Maranhão, esteve pelo menos três vezes com Roseana e que “as tratativas da governadora em relação ao pagamento de propina para o abastecimento de sua campanha eram breves e se restringia a perguntas se estava tudo ‘acertado”.

Na segunda etapa dos depoimentos, contudo, agora conduzida pela PGR (Procuradoria Geral da República) no Rio de Janeiro em 11 de fevereiro passado, Costa primeiro afirmou que não falou do envio do dinheiro à campanha da governadora, “nunca tocou no assunto com ela”.

Um dos procuradores então leu o trecho do depoimento anterior de Costa. O ex-diretor então corrigiu: “Se consta no depoimento, para mim o que vale é o depoimento”.

Os procuradores concordaram que “está todo mundo cansado”. Outro procurador indagou se ele poderia ratificar todo o depoimento anterior, e Costa concordou. “A minha memória estava muito mais boa aqui [no primeiro depoimento] do que aqui”. Os procuradores então transcreveram o primeiro depoimento no texto do segundo depoimento.

Minutos depois, Costa voltou ao tema. “Tô tentando me lembrar aqui. Acho que foi uma coisa assim ‘está tudo certo?’ Acho que foi nesse sentido”, disse o ex-diretor. “Mas não teve uma conversa mais longa, detalhada, sobre isso”.

OUTRO LADO

Em discurso na tribuna do Senado no último dia 12 de março, Edison Lobão negou ter feito qualquer pedido de dinheiro ao ex-diretor da Petrobras. “Minha dignidade jamais foi posta à prova. Tenho uma vida sem manchas, sem nódoas, sem máculas. Esse é meu patrimônio. É em nome dele que repudio toda a tentativa de envolver meu nome no escândalo de corrupção que abala a nossa maior empresa, a Petrobras”.

 

Em recurso protocolado no STF, o advogado de Roseana, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, afirmou que “não há convergência, mas contradições entre os depoimentos dos delatores e, por óbvio, não há verossimilhança, mas uma completa dissonância entre a suposta entrega de vantagem à campanha política da agravante [Roseana] –que nunca existiu!– e a tal entrega de R$ 2 milhões em um hotel em São Paulo”.